Entre abraços e beijos

     

      Em tempos de neoliberalismo tupiniquim estou vislumbrando a ponte para o futuro, melhor construída que aquela do usurpador de governo, no caso o golpista Nosferatu Michel Temer com a perspectiva de criação de uma empresa de prestação de serviços que pode gerar inúmeros empregos. Essa ponte, creio, terá um impacto substancial nesse momento da economia, a tal ponto que o empreendedorismo cardigã de Luciano Huck e João Dórea não conseguirá acompanhar nas suas tardes de sábado televisivas ou nos seus patrocinados boletins sobre a Covid19 das tardes paulistanas.

          A pandemia está aí, veio pra ficar por pelo menos mais dois anos e até que a indústria farmacêutica nos oferte, por módicos preços uma vacina anti COVID19 foi que eu, depois de um matutar preguiçoso deitado numa rede lá em Massarandupió, decidi criar uma loja pra venda de beijos e abraços. Isso mesmo, vender beijos e abraços. Por certo alguém estará dizendo por ai que essa não é uma ideia original, que em parques de filmes americanos, loiras colegiais ofertam seus volumosos lábios, bucais meu amigo, (não pensem noutras coisas), por notas de dólar verdinha para delírio de adolescentes com espinhas no rosto, mas defenderei com lábios e braços a minha idéia até a morte.

          Mas o nosso negócio é sério, e tem uma penetração social enorme, capaz de alavancar o pibinho brasileiro de menos de 1%, com a criação de empregos diretos e indiretos gerando renda e proporcionando receitas fantásticas para a reforma tributária do ministro Tchutchuca.

         Tudo articulado com deputados progressistas que defenderão a extinção do PIS- COFINS para a criação de um ISS federal – Imposto sobre o Isolamento Social – necessário para substituir as pílulas da felicidade vendidas em cada esquina em favor de abraços apertados e beijos calientes. Nesse imposto, de caráter regressivo, quanto menos barbitúricos o cidadão vier a consumir mais abraços terá direito, contribuindo assim com a redução das filas do CAPS e alvissaras, fazendo bombar a reforma psiquiátrica à la Foucault e Marcuse. Claro, que enfrentaremos a resistência das máfias assentadas nos corredores das secretarias de saúde dos estados, bem como a cara feia de certos prescritores mancomunados com essa indústria da antifelicidade, mas acreditamos que frente a possibilidade concreta de ganhar um abraço apertado e caloroso teremos um apoio popular inconteste.

          O outro imposto resultante da extinção do PIS-COFINS pode se tornar o “ viagra” do ministro Tchutchuca, posto que será transformado no OBA – Obrigação sobre Beijos e Afins. Essa taxação terá valor mais vultoso, haja vista suas implicações e desdobramentos vez que esse imposto estará estratificado conforme o tipo e lugar. Explico melhor; nada terá com a guerra fiscal existente entre os estados mas sim o lugar da sua recepção; se o beijo for na bochecha, se for um  selinho tipo Hebe ou um beijo com cinematográficos lábios entrelaçados no estilo retrô de E o Vento Levou, o cidadão terá que desembolsar proporcionalmente a essas intimidades.  Nesse caso não se pode é levar às últimas consequências ou intenções outras e acabar sonegando uma língua, um amasso, ou apalpadelas, pois a sonegação  violenta  pode gerar multa severa e um senhor processo obrigando o cidadão a cumprir além do isolamento social acrescido da utilização de máscara  facial, obrigatoriamente com chip eletrônico na boca, estilo tornozeleira  de condenados da lava jato tipo Youssef, Odebrecht e outros desconhecidos,  a não ser que o infeliz seja amigo do “veio sonegador da Havan” e acabe se safando como ele até agora.

          As questões sanitárias já estão planejadas e isso, óbvio, passa longe dos ministros da saúde de plantão, que de logística e saúde nada entendem, muito pelo contrário, são mestres em nepotismo e desvio de grana dos cofres públicos. Mas, com meu réquiem pronto e à parte, enumero que o álcool gel dos canaviais do agro negócio, termômetros frontais de ultima geração, luvas estéreis, enxaguante bucal, teste rápido para Covid 19 de laboratório certificado pelo fascista conselho de classe médico laboratorial (nada que uma promessa de ministério não mereça parecer favorável – sic) e um veículo  blindado à disposição serão itens obrigatórios.

          Acreditamos que dado a carência mundial de afetos,  desde o Vale do Capão até o Nepal, abraços apertados, beijos calorosos e languidos, (percebeu a necessidade social do investimento?) nesses tempos bicudos, desculpe a ironia pra atual conjuntura, em pouco tempo nossa empresa atinja o trend topic do mundo empresarial, readaptando as pessoas com o contato físico e psíquico interpessoal. A população pode ficar tranquila pois ofertaremos trabalhadores de todos os matizes. Homens, mulheres, de todas as raças e cores, Shivas de todos os gêneros, para desespero de adeptos fascistas contrários ao amor entre as pessoas.

          No planejamento estratégico em pouco tempo nossa franquia, estimamos, invadirá até o Japão, subvertendo as manifestações de carinho pouco usuais, onde as mocinhas costumam apertar os dedos das mãos, quando contentes, trocando-os por outras sutras nipônicas mais ousadas.

          Ao tempo que faço esse relato, preocupa-me apenas as ações dos odontólogos locais que não conseguiram, ainda, sequer colocar próteses nas arcadas dentárias dos brasileiros e minha funcionária de seios volumosos dar um beijo de língua em boca sem dente, há de convir, ninguém merece, e isso pode ser motivo de uma reclamação trabalhista.

          Mas aguardamos ansiosos os trâmites legais para bombar no mundo empresarial e já antevemos a perspectiva de abrir uma loja piloto em Brasília, nesse caso como entrante, talvez no formato de uma casa de encontros bem mais qualificada que a Praça dos Três Poderes. Concretizando o projeto, aí é só marketing. Aí é só correr pro abraço!

P.S. 1- quanto ao veículo blindado é para proteção dos trabalhadores, contra aquele povo que não tem coragem de colocar seus afetos para fora da caixa e que saem por aí ensandecidos, batendo, ceifando vidas. Você sabe, são aqueles protofascistas, cidadãos de bem, que fazem “arminha”!

2- Você após ler essa crônica já tem direito a um bônus em nossa loja – um grande e caloroso abraço. ❤

 

Wagner Bomfim

25/07/2020

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Neci Soares
3 anos atrás

Maravilha ler as crônicas de Wagner e penetrar nesta viagem, solicitando o direito a um bônus, kkkk

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Comentários

  1. Profa Me Cintia Portugal em Sempre
  2. Marirone em Sempre
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