O atestado falso

O Atestado falso

 

Usando um corpete de renda preta e um short de malha bem justo, ela entrou no consultório aparentando certa timidez ou tensão.

A face brilhosa, tanto pelo glitter, quanto por uma leve transpiração fazia perceber a ansiedade que a Stefany demonstrava naquele momento.

Um leve sorriso do médico lhe dava as boas-vindas e após a identificação clássica, o doutor perguntou-lhe o motivo que a levou ao consultório. Ela começou falando de um certo ardor nas partes íntimas ao tempo que cruzava as pernas, e que não lhe deixava dormir direito. Que precisava solucionar aquele problema com brevidade, pois tinha uma viagem para o Rio de Janeiro e queria chegar lá saudável.

O médico pediu-lhe mais informações sobre sua saúde, seus hábitos alimentares, intestinais e urinários, e por fim, da vida sexual. Esse último quesito fez Stefany suspirar e arfando o colo sob o top de renda não passou desapercebido pelo médico.

Logo após o doutor lhe indicou o espaço para ela se trocar, pois que iria fazer um exame físico. Sobre o biombo do consultório, o doutor Canuto via desfilar top, short, bandagens e meias cor da pele. Sem entender muito bem o que ocorria, perguntou se estava pronta e ouviu a resposta positiva de Stefany, que já se encontrava deitada sobre a mesa para o exame.

Ao se aproximar, Dr Canuto Amora se deparou com um trans posicionado para exame urológico e todo compenetrado foi apalpando daqui, apalpando dali, por fim, partiu para um exame prostático com direito a olhinhos para o lado.

Logo o médico lhe pediu para ela se trocar. Já sentado em sua cadeira, doutor preparou uma receita contendo um remédio para hemorroidas. A sua frente Stefany cruzou as pernas diante de Dr Canuto, que desconfortável baixou as vistas, ao tempo que lhe entregou a receita com recomendações de uns banhos de assento.

Antes de levantar-se, Stefany disse;

— Doutor, o senhor pode me dar um atestado para esse fim de semana?

— Com ardor ou sem ardor eu não vou perderrrr o show da diva de jeito nenhum.

– Pense, que no meio daquela geeennte toda na praia de Copacabana eu não encontro um bofe para aplicar esse remédio?

— Que Diva? Que show, senhora?

– Oxe doctooor! O show da Madona, linda, maravilhosa!

De súbito ouviu-se um grito agudo no consultório.

– O quê!!! Show da Madona?

– Aaaii amiga!!!

— Vamos juntas, vamos juntas!!!

Isso o conselho de medicina fake não vê. Essa emissão de atestados graciosos diante de tanta tragédia.

Um horror! Um horror!

 

Tonico di Meucci

06/05/2024.

P.S. Esse é um texto de ficção.

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Paulo F Almeida
Paulo F Almeida
1 ano atrás

Que maravilha de texto.

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Comentários

  1. Franklin Passos em Análise
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