A Evangelização do Carnaval

O silêncio e produção.

O descanso foi feito pelo senhor teu Deus no sétimo dia da criação.

Ele não o criou meramente devido ao longo trabalho de seis dias. Antes, o fez como realização do silêncio, da escuta, da comunhão, da completude, que significa o profundo, o divino.

Assim será o teu Sabá, tua quaresma, teu descanso a partir de amanhã. Entrarás em comunhão com o divino e repetirá em silêncio, sem comida e sem bebida, todos os signos, todos os símbolos e representação da tua euternidade!

A Evangelização do Carnaval

Disputando recordes de dias festivos de carnaval, sobretudo as capitais, o país se embriaga de todos os ritmos, fantasias e excessos, tentando expurgar tudo de ruim que lhes acometeu nos últimos anos de convivência com um regime nazifascista e de cunho fundamentalista neo pentecostal.
Esse modelo de governo pautando uma vida social repressiva ainda é presente no seio social, ainda nos amedronta com inúmeros demônios dessa mesma seita e de outras que, enganados, deixamos vivos no calabouço da anistia ampla, geral e irrestrita concedida aos militares.

O sistema neoliberal, essa reinvenção pós-moderna do capitalismo não para, está sempre a exigir algo novo, num rito da produção, de coação da produção que a todos consome, a tudo e todos esgota. Este trabalhador aqui, como mero artífice da palavra, é empurrado também para a linha de produção da comunicação, sambando na mais-valia neoliberal, aspirando a performance extenuante do dia a dia.

Na busca desse novo, não deixaria de se apropriar da visão surreal que foi a fala de uma suposta pastora neopentecostal que eclodiu de uma casca sem vida, como um  ” bule-bule” pós-dilúvio que acometeu o circuito carnavalesco entre a Barra e Ondina.  Ensandecida, a pastora profetizou o fim do mundo no calendário gregoriano lá para os anos 30 desse século. Hoje  pastora, antes cantora do grupo musical Os Novos Baianos, que teve grande e significativa importância na música brasileira, surgido na década de 70 do século passado em pleno regime ditatorial conservador.

O projeto de poder dessa seita neopentecostal tem sido de ocupação total das instituições formais do Estado, assim como a exploração de todos os setores da vida profana(laboral) , em nome de um Deus qualquer de plantão. Sim, um Deus de plantão porque o modelo de produção neoliberal intenta o novo a todo minuto, a determinar valores retrógrados e anticientíficos, tendo um Deus específico a ditar seus signos e símbolos conforme a conveniência dos falsos profetas.

Nada contra alguém professar sua fé, seja cristã, seja muçulmana, umbanda, budista ou mesmo e sobretudo a fé de Espinosa.

Fica patente nessa aparição oriunda do ostracismo, o oportunismo e a intencionalidade de evangelizar a festa profana. A expoente do desbunde, do hedonismo e da contestação do regime capitalista e ditatorial militar que tantas vidas ceifaram, aposta na ocupação de espaço, antes considerado uma festa demoníaca, para tentar angariar adeptos para sua igreja no meio exatamente do apocalipse profano que é o carnaval de Salvador.

Há de preservar os signos, os símbolos como sinal de pertencimento, de estar em casa, de resistência a essa mola produtora do capital e sua mais-valia a qualquer custo.

Assim como tentaram transformar o Reagge em ritmo de louvor evangélico, dissociado de Jah e de sua histórica resistência, desta feita a pastora psicodélica prega um apocalipse em meio ao “macetando” profano do carnaval, ao tempo em que ganha likes e dízimos para sua igreja!
Necessário que a pastora ouça o silêncio, que encasala, que dá pertencimento ao homem após a labuta, após o profano. Os símbolos e signos são repetições do sagrado. Contrapõem-se a produção. Mesmo durante o carnaval estamos cansados do profano que nos consome e violenta. Deixemos  o carnaval passar.

“Atrás  do trio elétrico só não vai quem já morreu” !


Wagner Bomfim

13/02/2024

 

 

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  1. Franklin Passos em Análise
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