O leitor preocupado com o meio ambiente certamente será sensível ao que a Prefeitura de Salvador intenta fazer numa APA (Área de Proteção Ambiental), no caso o Parque Nacional de São Bartolomeu, único resquício de mata atlântica periurbana, localizado próximo à Plataforma e Pirajá, centro da batalha final pela Independência da Bahia em 1823.
As recentes medidas de venda/entrega das áreas verdes para a iniciativa privada, chamada de “desafetação” avançam no intuito de transformar Salvador num grande bloco de cimento e asfalto.
Nesse instante o prefeito anuncia a construção de um teleférico incrustado exatamente sobre um bioma inestimável próximo a uma bacia hidrográfica que serve ou deveria servir com água, coleta de lixo e esgotamento sanitário adequados a toda população do bairro ferroviário, Pirajá, chegando até o município de Simões Filho.
Mas aí já é pedir demais, não é ? A coleta de lixo da Região Metropolitana de Salvador tem uma dinastia, tem donos de um negócio mais que multimilionário, que se relacionam por décadas com o poder público sem submeter-se a qualquer controle dos Tribunais de Contas. Inexiste uma fiscalização aprofundada dos órgãos que regulam o meio ambiente, sobre o processo de coleta e destinação do lixo e seu impacto no solo e lençóis freáticos, de onde provém parte da nossa água potável.
A construção desse teleférico ofende gritantemente um santuário do povo de santo, da Umbanda, do Candomblé, que tem sofrido investidas até violentas em seus rituais sagrados por religiosos fundamentalistas do entorno. As comunidades do Quilombo dos Urubus e Bacia do Cobre, comunidade descendente dos povos Tupinambás que ocupam aquela área há séculos, não encontram a devida proteção dos direitos de cidadania, pelo contrário, incomodam ao sequioso mercado imobiliário e aos amigos do poder.
Um teleférico é só o início da degradação do meio ambiente, abrindo espaço para a ocupação desordenada desse solo sagrado.
Verde? Para que te quero, verde?
Wagner Bomfim
25/02/2024
Fotografia: Google
Excelente suas publicações, Dr Wagner!