Entre a farofa e o gourmet.

 

 Esta semana, a Prefeitura de Salvador entregará a uma empresa privada a concessão de todos os quiosques da orla marítima para serem explorados comercialmente pelo período de 30 anos. Pouco a pouco vão pavimentando as áreas de vegetação natural com construções de alvenaria no melhor estilo de construção caixa Lego, mais parecendo portarias de prédios, tipo paliteiros, que pipocam em todo o litoral soteropolitano depois do PDDU aprovado pela Câmara Municipal.
Toda a requalificação é  “seca”, insalubre, sem ambiência para usufruto da população que precisa desse espaço para lazer e atividades físicas.
 A alguns metros dessas “portarias” estendem-se horrorosas tendas azuis, sitiando a praia, espaço público, com suas mesas e cadeiras de plástico degradadas, gerando uma poluição visual desconfortável em todos os sentidos.
Além do cerceamento de ocupação da areia pelo povo mais humilde, que se desloca com dificuldade dos bairros distantes em ônibus caros, esse espaço da areia custa caro, inclusive do ponto de vista sanitário. Antes, um lazer barato, saudável e democrático, hoje se tornou inaceitável, inacessível.
 Os “proprietários” dessas tendas, que se engajaram na campanha política em favor do atual prefeito, veem-se na iminência de serem alijados desse latifúndio, como outros barraqueiros foram expulsos ao longo das praias há alguns anos por determinação do MPF. Agora esses “ proprietários” vivem um efeito bumerangue e receberão o troco pela escolha.
 Quem viu a orla de Salvador em passado recente, cheia de vegetação, coqueirais e fauna nativa, a encantar nativos e turistas, como no Jardim de Alah, em Piatã e outras praias, é tomado de espanto com o modelo de cidade levada a efeito nas últimas décadas pelos gestores públicos.
Um Portal do Inferno é o que se transformou a antiga e bucólica Itapuã e o imenso coqueiral de Piatã, hoje invadido por botecos dos “amigos” a enfeiar a visão do mar da Bahia.
 Do Costa Azul a Jaguaribe, constata-se que seus rios foram transformados em esgoto ao ar livre, inexistindo nestes qualquer potabilidade e balneabilidade de suas águas e do entorno onde deságuam.
Nas praias da Bahia, hoje, nem uma farofa de frango regada a risos, uma puxada de rede, ou um cálido namoro de fim de tarde é possível sem gastar fortunas e ter inúmeros sobressaltos!
Na calçada gourmetizada será preciso pedir licença na “clausura” da Ambev, provável detentora de exploração de uma marca de cerveja gelada.
Por fim resta apenas uma pergunta ao embasbacado leitor.
– “Mas nóis viemo aqui pra beber ou pra conversar?”
 Wagner Bomfim
20/01/2025.

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Cacilda Félix Santos
Cacilda Félix Santos
4 meses atrás

Cacilda Félix Santos

Cacilda Félix Santos
Cacilda Félix Santos
4 meses atrás

A gestão atual da Prefeitura é continuidade da era do “ Neguinho do Curuzu”.
Tudo teve início qdo foram expulsos os antigos permissionários do “Saudoso Mercado do Peixe “ , local aonde o povo preto e pobre do Rio Vermelho e adjacências se divertia que foi transformado num espaço gourmet, chamado Vila Caramuru.
A requalificação da orla foi este desastre ambiental , aonde os esgotos são jogados nas praias , de maneira assassina , gerando prejuízo para a saúde dos que se aventuram a banhar-se nas “águas do mar de Caimmy “. E os pescadores? Também foram prejudicados, tendo consequentemente perdido o seu “ganha pão “, ficando apenas para lembrança “ as Colônias ” , sem nenhuma utilidade .
O que falta ainda ser “requalificado ?”

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  1. Franklin Passos em Análise
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