Prof. Franklin Passos.
Conselhos de mãe: quando sair de casa, ore por proteção! Eis um conselho que sempre ouvi, calado. Pergunte se seguia a recomendação? Nem sempre.
Vinha fazendo meu treino de bicicleta por um dos lugares mais legais de Paulo Afonso, um trajeto entre o Balneário e o Parque Belvedere, subindo até a Fazenda Chesf. Fizeram uma ciclofaixa, sinalizada, que permitia, pelo menos na teoria, aos ciclistas transitarem com alguma segurança, mas que também era compartilhada com pessoas que faziam caminhadas e corrida. Até aí, nenhum problema. A coisa ficava complicada quando o espaço das bicicletas e das pessoas era invadido por carros, principalmente de auto-escolas.
Um dia, num desses treinos de domingo, percebi um número grande de pessoas andando na pista e, para variar, na ciclofaixa. E, vindo em minha direção, dois homens, lado a lado, quase na metade da pista, como que donos do pedaço, inclusive, um deles, segurando uma espécie de bastão ou um pedaço de cabo de vassoura. De longe, não foi possível identificar. Foram aproximando e nada de eles se chegarem para a borda da pista. Foi chegando, chegando, e nada! Eu permaneci na borda da rua, bem no canto, por questão de segurança, pois sempre vinham carros. E, confesso, achei uma falta de consideração desses dois, o fato de agirem como se estivessem sozinhos no mundo. Fui me aproximando, em sentido contrário, e um deles, o do bastão, caminhava como se nada estivesse acontecendo, sem mudar a direção para me dar espaço. Quando passei pelo desassuntado, o bastão bateu na minha mão! Gritei, com um palavrão, reclamando com a agressão! Concentrado no treino, continuei, sem parar.
Depois de algum tempo, olha quem estava de novo à minha frente? Os dois andarilhos! O
agressor, portando o cabo de alguma coisa, a arma! Parei, diante deles, bem sério,
cumprimentado-os, educadamente. E falei:
– Bom dia! Tudo bem? Olhando para meu agressor, disse: Com licença, mas o senhor percebeu que me agrediu com esse bastão? Eu poderia ter caído e me machucado!
Aí, o outro homem, que estava o acompanhando, olhou-me, todo sem jeito e disse:
– Calma, ele é cego! Isso é a bengala para guiar ele!
Depois que ouvi a explicação, minha revolta deu lugar a um sentimento de vergonha ou algo
parecido. Com um sorriso sem graça, comecei a tentar me justificar que a convivência no trânsito é necessária e que todos devem cuidar um dos outros. Que situações como essa acontecem sem querer. Pedi desculpas pelo mal entendido, agradeci a atenção e me despedi, com o rabo entre as pernas.
Retomei meu treino, tentando refletir a besteira feita e os aprendizados dessa lição. A primeira, nem tudo que parece é verdadeiro. Não julgue para não ser julgado. Tenha paciência e, acima de tudo, tolerância. Não somos a palmatória do mundo! E apanhar de um cego, tem sempre a primeira vez!
Já finalizando o treino, indo para casa, numa longa descida, onde a bike pega muita
velocidade, relaxei, com a tranquilidade de que a missão estava quase completa. Quando, de
repente, três micos silvestres, atravessam na minha frente! Claro que não deu tempo de frear! O primeiro mico passou, segundo, também escapou, mas o terceiro, passei por cima, bem em cheio! Poxa, matei o mico! Foi o que ficou no meu pensamento! Não tive coragem de voltar e ver o corpo.
– Que dia! Primeiro, fui agredido por um cego, segundo, matei um mico…
Chego em casa, uma convicção: escute os conselhos das pessoas que gostam da gente!
Uma oração não custa nada e atrai proteção e boas energias!
Confesso que vou sempre fazer uma oração antes de sair de casa! Para que, em uma
próxima vez, quem sabe, eu não apanhe de um mico e nem mate um cego…
Franklin Passos
Professor Assistente de Medicina da UNIVASF.
Médico Ortopedista.
Cronista colaborador desse blog.
Nem sempre as cousas são como parecem .
Estamos vivendo um Mundo de intolerâncias .
Está muito difícil Viver .
Verdade, Cacilda! Dia a dia, corremos riscos de vida!