Bebês Reborn -Entre o vazio e o fascismo.
Antes de adentrarmos na epidemia dos bebês reborn poderíamos perguntar: de onde provém o vazio existencial do ser humano? Muitos filósofos a esse tema já se debruçaram e aqui colocaremos mais uma pimenta a chamar a atenção que o assunto requer.
O modo de produção acelerada onde o neoliberalismo, a financeirização do capital estão instalados geraram um lúmpen do século XXI. São zumbis da era informacional, que atônitos encontram-se à margem do trabalho e de uma vida coletiva, garantidoras de mínimas condições de subsistência e já sob a ameaça do onipresente avanço da AI sob a égide dos robôs.
A expansão do lucro atinge desta feita os silêncios das existências, espaços hora preenchidos por seres de silicones, inanimados, destituídos de humanidades, de dores e risos que compõem a miserabilidade da vida concreta da maioria das pessoas.
São maternidades e paternidades fictícias em um mundo real, transformando signos, símbolos e costumes em outros valores alinhados com uma nova estética e narrativas ideológicas, comportamentais.
A concepção de bebês reborn, vem destituídos de dores de toda natureza, de febres terçãs ou teimosias infantis, atendem tão somente a um modo obediente de viver. Esses representantes inanimados, são os não transgressores, proposto pelo modo de relação social vigente para bem existir em estados totalitários, estados esses que pouco a pouco amplifica pelo mundo afora.
Bebês reborn são a necrofilia estética do fascismo, vez que ambos se amparam na anti-vida, na morte de qualquer novo. São angústias, são túmulos ocupados pela higiene siliconada, pela normatização do comportamento da mátria, da pátria.
A crescente percepção de que caminhamos para um mundo distópico tem acarretado por consequência na formação de comunidades já distópicas, insanas, a produzir, a consumir desde os próprios bonecos siliconados, bem como a valorar um modo de vida irreal, indolor, asséptico, para deleite de uma indústria de materiais e serviços correlatos.
São creches reborn, babás especializadas em silêncios, vazios, assim como psicólogos lacanianos ou freudianos reborn a explorar linguagens, a discutir os significantes de cada mente distópicas em meio a uma cultura e comportamentos egocentristas.
Os Psicanalistas freudianos insistem nas repressões dos impulsos- agora liberados em simulacros- enquanto arquétipos jungueanos parecem espelhar um exército de neofascistas próprios desta era informacional. São insanidades a imitar uma vida real, vida indolor até certo tempo, até que a própria morte reborn seja uma etapa desse consumo das emoções enquanto mercadoria perecível.
A crescente evidência de que o modo de produção neoliberal é predatório, excludente, geradora do individualismo e do vazio existencial gera também um fratricídio das relações humanas.
Estas e somente estas relações, acredito, tem o condão de permitir convívios afetuosos, coletivos e reais. Bebês reborn é a infantilizacao, a insegurança e a incerteza que os homens expressam em relação ao futuro. Uma enorme caverna !
Wagner Bomfim
20/05/2025
Profético. Daqui a 5 anos revisitemos essa crônica, e veremos tal distopia tão concretamente quanto o látex desses seres inanimados.